sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Acróstico de Natal

Feliz

N
unca
A bandone
T eus
A migos, pois
L ogo sentirás que sem

E les não

A ndarás tão fortemente,
N ão poderás ir tão distante e não conseguirás atingir os
O bjetivos desejados.

N este 2011 que
O s teus amigos se tornem
V erdadeiros irmãos, e tu possas ser para eles
O amigo, “aquele que chega, quando todo mundo se foi”.

Francisco Martins (Mané Beradeiro)
Mané Beradeiro
Cidadão da lendária e mítica São Sarauê.
Contador de Causos e declamador de poesia matuta na literatura do Rio Grande do Norte
visite:http://franciscomartinsescritor.blogspot.com

domingo, 5 de dezembro de 2010

Keith Haring, Grafite e Pop-Art.


A Pop-art foi um movimento artístico surgido na Inglaterra nos anos 1950, com o Independent Group (IG), mas, que ganhou notoriedade através de Andy Wahrol, nos anos 70, 80 nos EUA. Esse movimento de crítica à arte pura buscava a estética das massas, tentando achar a definição do que seria a cultura pop, aproximando-se do que costuma chamar de kitsch.
Para alguns historiadores, a Pop art marca a passagem do modernismo para o pós-modernismo na cultura ocidental.
Um dos nomes que se tornaram ícones da proposta underground da Pop Art foi Keith Haring. Nascido na Pensilvânaia, ficou conhecido por seu trabalho de grossos contornos pretos e cores vibrantes, bem como através da sua militância nas causas sociais, tendo, inclusive criado a “Keith Haring Foudation”, para tratar das vítimas da Aids.
Por falar em Haring, visitei recentemente uma exposição sua no centro cultural da Caixa Econômica Federal, no Rio de Janeiro. Entre as obras mostradas em “Selected works” estavam as da série Pop Shop; da sua última série de trabalhos, “Story of red and blue”; de campanhas de saúde públicas, skates, fotografias de objetos pessoais, além da exibição de dois documentários; “The Universe of Keith Haring” (direção de Chistina Clausen) e “Drawing the Line” (direção de Elisabeth Aubert)..
Além de sua participação na Bienal de São Paulo de 1983, o artista esteve no Brasil em diversas ocasiões – principalmente na casa de seu amigo, também artista, Kenny Scharf, que possui uma casa em Ilhéus (BA).
Keith morreu aos 31 anos vítima de AIDS, no ano de de 1990.
Por: Edson Lima
Professor de Artes Visuais
Designer Gráfico - UFRN

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Visita à exposições no RJ

Estive no finalzinho de novembro no Rio de Janeiro participando de um curso de comunicação contra-hegemônica. Aproveitando os intervalos, (os espaços eram vizinhos), visitei algumas exposições de arte que compartilharei com vocês nos próximos dias. Cinelândia, com o Cinema Odeon, o bar "Amarelinho", reduto da boemia carioca e ponto de encontro de artistas, o belíssimo prédio em estilo neoclássico da Câmara Municipal, além do majestoso Teatro Municipal recém reformado, fazem parte do cenário.
As exposições visitadas foram no Museu Nacional de Belas Artes e no Centro Cultural da Caixa Econômica.

Siron Franco, Di Cavalcanti, Portinari, Osvaldo Gueldi...









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Visita ao Museu Nacional de Belas Artes, RJ




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sábado, 1 de maio de 2010

Alguns aspectos da Videoarte

No início dos anos de 1960 acontece a popularização da televisão comercial levando cada vez mais pessoas a passar mais tempo em frente à telinha. A comunidade artística percebe neste fato novas possibilidades se descortinando também no campo da arte, sendo imperativo aos artistas a necessidade de adaptação à essa nova realidade.
Antes do surgimento da TV comercial já vinha se debatendo a utilização de novas linguagens artísticas. Era necessária uma arte que pudesse explorar as possibilidades dos novos meios. Essa nova arte não poderia se ater aos velhos cânones do classicismo artístico. O pincel e a tela são “peças de museu”. Ao se libertar da necessidade de existir enquanto objeto, o conceito passa a ser valorizado na arte. É nesse contexto de novos experimentos de arte conceitual que surge a videoarte, a qual se consolida a partir do surgimento de uma nova ferramenta tecnológica: a filmadora portátil.
Uma atitude crítica conta a televisão marcou o início da videoarte. A primeira geração de videoartistas defendia que para existir uma relação crítica com a linguagem televisual, era preciso participar ativamente dessa nova linguagem, conhecê-la por dentro. Por este motivo as primeiras experiências de videoarte foram claramente com a finalidade de subversão da linguagem televisiva. Outra grande utilização da videoarte ainda na fase inicial foi a de registrar os happenings, que já se destacavam no discurso vanguardista da arte conceitual. Num segundo momento, acontecem as primeiras experiências tipicamente de criação. Com o avanço tecnológico chega a terceira fase da videoarte que é a fase mais vanguardista, onde os equipamentos permitem que os artistas ousem em produções cada vez mais conceituais e performáticas.
Entre os críticos, há um consenso de que o vídeo encarado como um meio para a expressão estética, surge oficialmente no Brasil em 1974, quando alguns artistas, que haviam participado de uma mostra de videoarte na Filadélfia, produziram ao retornar ao Brasil, seus primeiros videoteipes.

Fluxus, Paik e Portapak. A primeira onda videoartística
No início da videoarte havia claramente duas práticas de vídeo; o vídeo-documentário feito por ativistas ligados ao movimento alternativo como o canadense Les Levine (1935) e o americano Frank Gillete (1941). Esses dois artistas foram os precursores no vídeo, de uma linguagem já utilizada no cinema há uma década, o cinéma vérité, ou cinema verdade, muito comum hoje em dia. Nos Estados Unidos, podemos citar como exemplo, a TVTV (Top Value Television) que fez uma cobertura alternativa das convenções republicanas em 1972. Nesta fase houve uma troca constante de pessoas que ora migravam da videoarte para a produção comercial ora faziam o sentido inverso. Essa troca acabou sendo positiva gerando muitos trabalhos de qualidade como Flex, de Chris Cunningham, antigo diretor de vídeos musicais.
Porém, o início efetivo da videoarte se dá quando o artista e músico coreano, integrante do Fluxus, Nam June Paik, comprou uma portapak da Sony e apontou na direção da comitiva do Papa que visitava Nova York. Esse reconhecimento se dá pelo fato de que Paik era um membro da comunidade artística e que a exposição do seu vídeo se deu com a intenção clara de mostrar sua visão pessoal (artística) e não a visão de um cinegrafista profissional. Além disso, Paik já havia assumido a linguagem do vídeo sendo um dos seus primeiros portavozes ao profetizar que do mesmo modo que a técnica de colagem substituiu a tinta a óleo, o tubo de raios catódicos também substituiria a tela (RUSH, 2006).
Na verdade, alguns artistas ligados à vídeoarte já dialogavam com o meio televisivo por outros meios antes da Portapak. Artistas como Nam June Paik e Wolf Vostell desenvolviam instalações usando aparelhos de TV desde 1963.
O artista coreano, que já vinha de experiências com o grupo Fluxus, utilizava a televisão como instrumento da sua arte, seja subvertendo a lógica de funcionamento do aparelho ao alterar a imagem da tela com auxílio de imãs ou usando monitores de televisão em assemblages, sendo também um dos precursores da videoinstalação.
Segundo artigo publicado no site do Itaú Cultural a primeira geração de videoartistas brasileiros eram artistas já consagrados. Nomes como Antônio Dias, Anna Bella Geiger, José Roberto Aguilar, Ivens Machado, Letícia Parente, Sônia Andrade, Regina Silveira, Julio Plaza, Paulo Herkenhoff, Regina Vater, Fernando Cocchiarale, Mary Dritschel, Ângelo de Aquino, Míriam Danowski, Paulo Bruscky Hélio Oiticica e tantos outros, que viam a videoarte como mais um campo onde podiam exercer a sua produção artística, não deixando, porém, as suas atividades originais.

Luz, câmera, criação. Chega a segunda geração
A maioria dos videoartistas da segunda geração já vinham de outras experiências artísticas, sendo legitimados pelo sistema museológico que cada vez mais abria espaço nessa instituições da arte tradicional para a videoarte. O próprio Paik, Dan Graham, Bruce Nauman, Joan Jonas, John Baldessari, Wolf Vostell, são alguns desses nomes.
A tendencia da videoarte que fez a transição do vídeo conceitual, performático para a linguagem mais pessoal, mais intimista, foi a do vídeo conceitual, onde se destacaram nomes como Vitto Aconcci, John Baldessari, Hannah Wike, Dara Birnbaum, Ana Mendieta, entre outros. Hill fez a transição dessa, para uma geração com pretensões intelectuais mais profundas formada por nomes como, Ken Feingold, cuja obra tinha pretensões filosóficas que remetiam ao filósofo Ludwig Wittgeinstein; o francês Robert Cahen, que se inspirava em Godard; sendo a característica dos seus integrantes um trabalho voltado exclusivamente para o vídeo.
Outro nome importante é o de Bill Viola (1951), que é considerado um dos videoartistas mais polêmicos da década de 1990. The Messenger (1996) é sua obra mais conhecida. Nessa obra ele tenta mostrar a repetição do ciclo vida/morte. A videoarte se desenvolve paralelamente em várias partes do mundo. Na Itália, um grupo que se destaca é o Studio Azzurro, adepto da videoarte interativa. Prólogo (1985) é um exemplo do seu trabalho.

Diversos grupos apareceram na esteira da “nova onda” da videoarte no Brasil, o vídeo independente. Entre eles destacou-se o TVDO (lê-se "TV Tudo"), grupo ligado à vanguarda paulistana, no início dos anos 80. Os videomakers Tadeu Jungle, Walter Silveira, Ney Marcondes, Paulo Priolli e Pedro Vieira formavam o grupo.
O Olhar Eletrônico (formado por Marcelo Machado, Fernando Meirelles, Renato Barbieri, Paulo Morelli e Marcelo Tas com algumas variações). Foi outro grupo de destaque na segunda fase da videoarte, experimentando soluções arrojadas e jamais antes encontradas na rotina televisual.

Do visual ao virtual. A fase da tecnologia
A terceira fase surge com o advento da computação gráfica. É nesta fase que se destacam Ed Emshwiller (1925-1990) que desenvolve a primeira animação computadorizada com o vídeo Thermogenesis (1972). Essa técnica só veio a se consagrar com a o advento do microcomputador a partir dos anos 1990. Em 1973 Dan Sandin, antigo ativista estudantil (de onde saiu seu envolvimento com o vídeo) desenvolveu o primeiro computador analógico para manipulação de imagens, o PI, como o ficou conhecido. (http://www.youtube.com/watch?v=UD1J_Mgotwg). Keith Sonnier, usou uma versão precoce do scanner o Scanimate em colagens diigitais. Os poloneses Steina e Woody Vasulka foram outros destaques desta fase tecnológica da videoarte.
Na novíssima geração, nos anos 90, acontece uma espécie de volta à estética visual dos anos 70. Entre as mulheres se destacam Cheryl Donegan, Philys Baldino, Sadie Benning. Entre os homens, Alexander Sokurov (Rússia), George Barber, Seoung Cho, além do onipresente Bill Viola.
A terceira geração de videomakers brasileiros faz a síntese das outras duas gerações e parte para um trabalho mais maduro e busca um vínculo mais direto com a produção videográfica internacional. Eder Santos talvez seja o mais conhecido e difundido dos videoartistas brasileiros desta geração. Sua obra pode ser considerada como a mais radical da produção videográfica brasileira. Sandra Kogut, segue a tendência iniciada por Nam June Paik de eletrificação da imagem e de desintegração de toda e qualquer unidade ou homogeneidade discursiva.
Outros dois nomes importantes no contexto da terceira geração de realizadores brasileiros são Walter Silveira e Arnaldo Antunes, oriundos da poesia concreta. Silveira optou por experiências a linguagem da mídia eletrônica, de que VT Preparado AC/JC (1986, realizado em parceria com Pedro Vieira) constitui o melhor exemplo. Arnaldo Antunes é um nome bem mais conhecido no Brasil como pop star, uma vez que foi líder de uma das mais famosas bandas brasileiras de rock: os Titãs. Depois de 1992, ele muda o curso de sua poesia e começa a experimentar uma nova forma de literatura, uma literatura feita no computador e destinada a ser lida na tela do aparelho de televisão. Utilizando recursos de computação gráfica e de vídeo, ele lança, em 1993, uma seleção de trinta impressionantes videopoemas (Nome), que combinam letras animadas com cores mutantes, imagens tomadas por câmeras de vídeo, oralização e música.
No que diz respeito à novíssima geração, é impossível deixar de mencionar vários nomes: Carlos Nader, Lucas Bambozzi, Kiko Goifman e Adriana Varella.

quarta-feira, 31 de março de 2010

TER OU NÃO TER. EIS A QUESTÃO.

Ter ou não ter. Eis a questão. Os leitores podem estar estranhando a “releitura” da famosa frase de William Shakespeare em um de seus diálogos maravilhosos. Mas, dependendo do ponto de vista em que é colocada, a frase assume uma veracidade instigante.
Para ser alguma coisa você precisa ter muitas outras coisas. Não, não estou falando no sentido materialista, vocês podem ficar tranqüilos. Raciocinem comigo.
A doutrina cristã nos ensina a ser justos. Mas é fácil ser justo?
Como ser justo num país cheio de injustiça social?
Desde pequenos somos ensinados pelos nossos pais a ser honestos. Mas é fácil ser honesto?
Como ser honesto, numa sociedade onde o bom mesmo é ser desonesto, é utilizar o famoso “jeitinho”, é subornar o guarda de trânsito, é receber dinheiro de político para votar, ou simplesmente furar a fila?
A sociedade nos prega todos os dias lições de ética e cidadania. Mas, é fácil ser ético?
É fácil ser cidadão?
Como ser ético, quando o estado que condena o jogo como contravenção é dono do maior “cassino” do país (as loterias da CEF)?
Como ser ético, quando deputados ou senadores tem a cara-de-pau de chegar ao congresso na terça feira às 9 horas (deveriam chegar na segunda feira), assinar o ponto, e às 9h30min já estar no aeroporto para voltar pra casa?
Como ser cidadão num país cuja Constituição garante :
o direito à terra, e o governo não tem força política para fazer a reforma agrária;
o direito à educação e a saúde, e esse mesmo governo privatiza escolas e hospitais;
o direito à greve, e o patrão (ou o governo) desconta dias parados de grevistas?
A resposta para todos esses questionamentos é uma só.
Para ser justo, para ser honesto, para ser ético, para ser cidadão é preciso ter coragem!
Vemos, portanto, o contrasenso que um simples jogo de palavras pode causar. No mundo do “quem tem mais pode mais” seria razoável supor como contraponto, a maior valorização do ser.
Ou seja. Seria “politicamente correto” respeitar as pessoas pelo que elas são e não pelo que elas tem. Mas, infelizmente o nosso mundo não é tão linear como gostaríamos que fosse. As coisas não acontecem simplesmente porque queremos que aconteça.
Para que o mundo seja da maneira que queremos, precisamos ter coragem e atitude para transformá-lo. E nisto reside a verdadeira arte de ser vivendo no mundo do ter.

Edson LIma

História da Arte no RN

O referido texto é uma tentativa de alavancar a sistematização da história das artes no RN para fins acadêmicos. Segundo o professor Vicente Vitoriano, não existe uma história da arte no RN. Discordo dessa afirmativa do professor Vicente. Essa história da arte existe sim. Só que não está devidamente compilada, tecnicamente organizada, necessitando, portanto, de um trabalho minucioso de garimpagem de documentos e obras que trate do tema. O Grupo de Pesquisa em Cultura Visual - Matizes vem dando importante contribuição neste trabalho de bricolagem da história da arte no nosso estado. Um exemplo da existência dessa história, é que, recentemente, ao apresentarmos um seminário sobre arte rupestre no RN, descobrimos a obra do Sr. José de Azevedo Dantas, precursor das pesquisas sobre arte rupestre no RN, que inclusive consta na bibliografia do professor Vitoriano. Ao pesquisar a história da xilogravura no nordeste encontrei a tese de mestrado do Cid Augusto da Escóssia, que trata do Sr. João da Escóssia, primeiro xilógrafo do Rio Grande do Norte. Esses exemplos, aliados ao trabalho do Matizes mostra que a história existe, faltando apenas ser escrita. Quem nunca ouviu falar do GRUPEHQ (inclusive estou doando à base de pesquisa do Matizes, um exemplar da revista Bruhaha onde consta uma entrevista com o pessoal dos quadrinhos)? Com certeza, esse grupo faz parte da história da arte potiguar, apesar de alguns acharem que HQ não é arte.
Acho que a iniciativa de se discutir a questão da história da arte no RN, a partir do estudo de exposições como o Salão de Artes Visuais da Cidade do Natal é de extrema importância, já que ali está representada a arte do estado na sua contemporaneidade. A importância que a fotografia vem obtendo nos últimos salões, outro fator destacado no texto do professor é um fato. Essa importância talvez tenha a ver, entre outros motivos, com a facilidade de utilização de meios tecnológicos como a s câmeras digitais e softwares gráficos como o Photoshop que é uma ferramenta poderosíssima na obtenção de efeitos artísticos em fotografias.
Sobre a contribuição de documentos impressos ou fotografias, tenho um grande acervo de fotografias dos murais existentes na cidade do Natal, de autores diversos, fruto de um trabalho de pesquisa da disciplina História da Arte I, ministrada pelo Professor Doutor Vicente Vitoriano. Tenho ainda o livro de Newton Navarro, “Futuebol” (uma das paixões do mestre), publicado pela Editora Universitária. Além disso, indico como fonte de estudos a tese de mestrado de Cid Augusto da Escóssia Rosado “A xilogravura como ilustração do texto jornalístico: uma análise do trabalho de João da Escóssia Nogueira no jornal “O Mossoroense”, de 1902 a 1906”, Existente na Biblioteca Central Zila Mamede. Entre outros documentos segue uma lista de títulos publicados pela Editora da UFRN, que contribuirá para este esforço do resgate da história da Arte no Rio Grande do Norte. Alguns dos livros encontram-se esgotados no catálogo da Editora Universitária, mas podem ser encontrados na Biblioteca Central Zila Mamede.

sábado, 13 de março de 2010

PALAVRA PINTADA - UMA EXPOSIÇÃO DE VICENTE VITORIANO

Venha para a abertura da exposição Palavra Pintada, de Vicente Vitoriano.
Dia 18 de março, às 19 horas, na Galeria Conviv'art - NAC. 
Campus Central da UFRN

sábado, 13 de fevereiro de 2010

...porque o consumo exacerbado nos consome

A propaganda em favor do consumo a todo custo acaba por hipnotizar muita gente, principalmente as crianças, que são a garantia de manutenção do sistema consumista.
Colo aqui, então, um texto de Frei Betto, recebido por e-mail, e que vem bem a propósito dessa questão:
"PASSEIO SOCRÁTICO
Frei Betto
Ao viajar pelo Oriente mantive contatos com monges do Tibete, da Mongólia, do Japão e da China. Eram homens serenos, comedidos, recolhidos e em paz nos seus mantos cor de açafrão.
Outro dia, eu observava o movimento do aeroporto de São Paulo: a sala de espera cheia de executivos com telefones celulares, preocupados, ansiosos, geralmente comendo mais do que deviam. Com certeza, já haviam tomado café da manhã em casa, mas como a companhia aérea oferecia um outro café, todos comiam vorazmente. Aquilo me fez refletir: 'Qual dos dois modelo produz felicidade?'
Encontrei Daniela, 10 anos, no elevador, às nove da manhã, e perguntei: 'Não foi à aula?' Ela respondeu: 'Não, tenho aula à tarde'. Comemorei: 'Que bom, então de manhã você pode brincar, dormir até mais tarde'. 'Não', retrucou ela, 'tenho tanta coisa de manhã...'. 'Que tanta coisa?', perguntei. 'Aulas de inglês, de balé, de pintura, piscina', e começou a elencar seu programa de garota robotizada. Fiquei pensando: 'Que pena, a Daniela não disse: 'Tenho aula de meditação!'
Estamos construindo super-homens e super-mulheres, totalmente equipados, mas emocionalmente infantilizados.
Uma progressista cidade do interior de São Paulo tinha, em 1960, seis livrarias e uma academia de ginástica; hoje, tem sessenta academias de ginástica e três livrarias! Não tenho nada contra malhar o corpo, mas me preocupo com a desproporção em relação à malhação do espírito. Acho ótimo, vamos todos morrer esbeltos: 'Como estava o defunto?'. 'Olha, uma maravilha, não tinha uma celulite!' Mas como fica a questão da subjetividade? Da espiritualidade? Da ociosidade amorosa?
Hoje, a palavra é virtualidade. Tudo é virtual. Trancado em seu quarto, em Brasília, um homem pode ter uma amiga íntima em Tóquio, sem nenhuma preocupação de conhecer o seu vizi­nho de prédio ou de quadra! Tudo é virtual. Somos místicos virtuais, religiosos virtuais, cidadãos virtuais. E somos também eticamente virtuais...
A palavra hoje é 'entretenimento'. Domingo, então, é o dia nacional da imbecilização coletiva. Imbecil o apresentador, imbecil quem vai lá e se apresenta no palco, imbecil quem perde a tarde diante da tela. Como a publicidade não consegue vender felicidade, passa a ilusão de que felicidade é o resultado da soma de prazeres: 'Se tomar este refrigerante, calçar este tênis, ­ usar esta camisa, comprar este carro, você chega lá!' O problema é que, em geral, não se chega! Quem cede desenvolve de tal maneira o desejo, que acaba­ precisando de um analista. Ou de remédios. Quem resiste, aumenta a neurose.
O grande desafio é começar a ver o quanto é bom ser livre de todo esse condicionamento globalizante, neoliberal, consumista. Assim, pode-se viver melhor. Aliás, para uma boa saúde mental, três requisitos são indispensáveis: amizades, auto-estima, ausência de estresse.
Há uma lógica religiosa no consumismo pós-moderno. Na Idade Média, as cidades adquiriam status construindo uma catedral; hoje, no Brasil, constrói-se um shopping center. É curioso: a maioria dos shoppings centers tem linhas arquitetônicas de catedrais estilizadas; neles não se pode ir de qualquer maneira, é preciso vestir roupa de missa de domingo. E ali dentro sente-se uma sensação paradisíaca: não há mendigos, crianças de rua, sujeira pelas calçadas...
Entra-se naqueles claustros ao som do gregoriano pós-moderno, aquela musiquinha de esperar dentista. Observam-se os vários nichos, todas aquelas capelas com os veneráveis objetos de consumo, acolitados por belas sacerdotisas. Quem pode comprar à vista, sente-se no reino dos céus. Se deve passar cheque pré-datado, pagar a crédito, entrar no cheque especial, sente-se no purgatório. Mas se não pode comprar, certamente vai se sentir no inferno... Felizmente, terminam todos na eucaristia pós-moderna, irmanados na mesma mesa, com o mesmo suco e o mesmo hambúrguer do Mc Donald...
Costumo advertir os balconistas que me cercam à porta das lojas: 'Estou apenas fazendo um passeio socrático. Diante de seus olhares espantados, explico: 'Sócrates, filósofo grego, também gostava de descansar a cabeça percorrendo o centro comercial de Atenas. Quando vendedores como vocês o assediavam, ele respondia: "Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz."