No início dos anos de 1960 acontece a popularização da televisão comercial levando cada vez mais pessoas a passar mais tempo em frente à telinha. A comunidade artística percebe neste fato novas possibilidades se descortinando também no campo da arte, sendo imperativo aos artistas a necessidade de adaptação à essa nova realidade.
Antes do surgimento da TV comercial já vinha se debatendo a utilização de novas linguagens artísticas. Era necessária uma arte que pudesse explorar as possibilidades dos novos meios. Essa nova arte não poderia se ater aos velhos cânones do classicismo artístico. O pincel e a tela são “peças de museu”. Ao se libertar da necessidade de existir enquanto objeto, o conceito passa a ser valorizado na arte. É nesse contexto de novos experimentos de arte conceitual que surge a videoarte, a qual se consolida a partir do surgimento de uma nova ferramenta tecnológica: a filmadora portátil.
Uma atitude crítica conta a televisão marcou o início da videoarte. A primeira geração de videoartistas defendia que para existir uma relação crítica com a linguagem televisual, era preciso participar ativamente dessa nova linguagem, conhecê-la por dentro. Por este motivo as primeiras experiências de videoarte foram claramente com a finalidade de subversão da linguagem televisiva. Outra grande utilização da videoarte ainda na fase inicial foi a de registrar os happenings, que já se destacavam no discurso vanguardista da arte conceitual. Num segundo momento, acontecem as primeiras experiências tipicamente de criação. Com o avanço tecnológico chega a terceira fase da videoarte que é a fase mais vanguardista, onde os equipamentos permitem que os artistas ousem em produções cada vez mais conceituais e performáticas.
Entre os críticos, há um consenso de que o vídeo encarado como um meio para a expressão estética, surge oficialmente no Brasil em 1974, quando alguns artistas, que haviam participado de uma mostra de videoarte na Filadélfia, produziram ao retornar ao Brasil, seus primeiros videoteipes.
Fluxus, Paik e Portapak. A primeira onda videoartística
No início da videoarte havia claramente duas práticas de vídeo; o vídeo-documentário feito por ativistas ligados ao movimento alternativo como o canadense Les Levine (1935) e o americano Frank Gillete (1941). Esses dois artistas foram os precursores no vídeo, de uma linguagem já utilizada no cinema há uma década, o cinéma vérité, ou cinema verdade, muito comum hoje em dia. Nos Estados Unidos, podemos citar como exemplo, a TVTV (Top Value Television) que fez uma cobertura alternativa das convenções republicanas em 1972. Nesta fase houve uma troca constante de pessoas que ora migravam da videoarte para a produção comercial ora faziam o sentido inverso. Essa troca acabou sendo positiva gerando muitos trabalhos de qualidade como Flex, de Chris Cunningham, antigo diretor de vídeos musicais.
Porém, o início efetivo da videoarte se dá quando o artista e músico coreano, integrante do Fluxus, Nam June Paik, comprou uma portapak da Sony e apontou na direção da comitiva do Papa que visitava Nova York. Esse reconhecimento se dá pelo fato de que Paik era um membro da comunidade artística e que a exposição do seu vídeo se deu com a intenção clara de mostrar sua visão pessoal (artística) e não a visão de um cinegrafista profissional. Além disso, Paik já havia assumido a linguagem do vídeo sendo um dos seus primeiros portavozes ao profetizar que do mesmo modo que a técnica de colagem substituiu a tinta a óleo, o tubo de raios catódicos também substituiria a tela (RUSH, 2006).
Na verdade, alguns artistas ligados à vídeoarte já dialogavam com o meio televisivo por outros meios antes da Portapak. Artistas como Nam June Paik e Wolf Vostell desenvolviam instalações usando aparelhos de TV desde 1963.
O artista coreano, que já vinha de experiências com o grupo Fluxus, utilizava a televisão como instrumento da sua arte, seja subvertendo a lógica de funcionamento do aparelho ao alterar a imagem da tela com auxílio de imãs ou usando monitores de televisão em assemblages, sendo também um dos precursores da videoinstalação.
Segundo artigo publicado no site do Itaú Cultural a primeira geração de videoartistas brasileiros eram artistas já consagrados. Nomes como Antônio Dias, Anna Bella Geiger, José Roberto Aguilar, Ivens Machado, Letícia Parente, Sônia Andrade, Regina Silveira, Julio Plaza, Paulo Herkenhoff, Regina Vater, Fernando Cocchiarale, Mary Dritschel, Ângelo de Aquino, Míriam Danowski, Paulo Bruscky Hélio Oiticica e tantos outros, que viam a videoarte como mais um campo onde podiam exercer a sua produção artística, não deixando, porém, as suas atividades originais.
Luz, câmera, criação. Chega a segunda geração
A maioria dos videoartistas da segunda geração já vinham de outras experiências artísticas, sendo legitimados pelo sistema museológico que cada vez mais abria espaço nessa instituições da arte tradicional para a videoarte. O próprio Paik, Dan Graham, Bruce Nauman, Joan Jonas, John Baldessari, Wolf Vostell, são alguns desses nomes.
A tendencia da videoarte que fez a transição do vídeo conceitual, performático para a linguagem mais pessoal, mais intimista, foi a do vídeo conceitual, onde se destacaram nomes como Vitto Aconcci, John Baldessari, Hannah Wike, Dara Birnbaum, Ana Mendieta, entre outros. Hill fez a transição dessa, para uma geração com pretensões intelectuais mais profundas formada por nomes como, Ken Feingold, cuja obra tinha pretensões filosóficas que remetiam ao filósofo Ludwig Wittgeinstein; o francês Robert Cahen, que se inspirava em Godard; sendo a característica dos seus integrantes um trabalho voltado exclusivamente para o vídeo.
Outro nome importante é o de Bill Viola (1951), que é considerado um dos videoartistas mais polêmicos da década de 1990. The Messenger (1996) é sua obra mais conhecida. Nessa obra ele tenta mostrar a repetição do ciclo vida/morte. A videoarte se desenvolve paralelamente em várias partes do mundo. Na Itália, um grupo que se destaca é o Studio Azzurro, adepto da videoarte interativa. Prólogo (1985) é um exemplo do seu trabalho.
Diversos grupos apareceram na esteira da “nova onda” da videoarte no Brasil, o vídeo independente. Entre eles destacou-se o TVDO (lê-se "TV Tudo"), grupo ligado à vanguarda paulistana, no início dos anos 80. Os videomakers Tadeu Jungle, Walter Silveira, Ney Marcondes, Paulo Priolli e Pedro Vieira formavam o grupo.
O Olhar Eletrônico (formado por Marcelo Machado, Fernando Meirelles, Renato Barbieri, Paulo Morelli e Marcelo Tas com algumas variações). Foi outro grupo de destaque na segunda fase da videoarte, experimentando soluções arrojadas e jamais antes encontradas na rotina televisual.
Do visual ao virtual. A fase da tecnologia
A terceira fase surge com o advento da computação gráfica. É nesta fase que se destacam Ed Emshwiller (1925-1990) que desenvolve a primeira animação computadorizada com o vídeo Thermogenesis (1972). Essa técnica só veio a se consagrar com a o advento do microcomputador a partir dos anos 1990. Em 1973 Dan Sandin, antigo ativista estudantil (de onde saiu seu envolvimento com o vídeo) desenvolveu o primeiro computador analógico para manipulação de imagens, o PI, como o ficou conhecido. (http://www.youtube.com/watch?v=UD1J_Mgotwg). Keith Sonnier, usou uma versão precoce do scanner o Scanimate em colagens diigitais. Os poloneses Steina e Woody Vasulka foram outros destaques desta fase tecnológica da videoarte.
Na novíssima geração, nos anos 90, acontece uma espécie de volta à estética visual dos anos 70. Entre as mulheres se destacam Cheryl Donegan, Philys Baldino, Sadie Benning. Entre os homens, Alexander Sokurov (Rússia), George Barber, Seoung Cho, além do onipresente Bill Viola.
A terceira geração de videomakers brasileiros faz a síntese das outras duas gerações e parte para um trabalho mais maduro e busca um vínculo mais direto com a produção videográfica internacional. Eder Santos talvez seja o mais conhecido e difundido dos videoartistas brasileiros desta geração. Sua obra pode ser considerada como a mais radical da produção videográfica brasileira. Sandra Kogut, segue a tendência iniciada por Nam June Paik de eletrificação da imagem e de desintegração de toda e qualquer unidade ou homogeneidade discursiva.
Outros dois nomes importantes no contexto da terceira geração de realizadores brasileiros são Walter Silveira e Arnaldo Antunes, oriundos da poesia concreta. Silveira optou por experiências a linguagem da mídia eletrônica, de que VT Preparado AC/JC (1986, realizado em parceria com Pedro Vieira) constitui o melhor exemplo. Arnaldo Antunes é um nome bem mais conhecido no Brasil como pop star, uma vez que foi líder de uma das mais famosas bandas brasileiras de rock: os Titãs. Depois de 1992, ele muda o curso de sua poesia e começa a experimentar uma nova forma de literatura, uma literatura feita no computador e destinada a ser lida na tela do aparelho de televisão. Utilizando recursos de computação gráfica e de vídeo, ele lança, em 1993, uma seleção de trinta impressionantes videopoemas (Nome), que combinam letras animadas com cores mutantes, imagens tomadas por câmeras de vídeo, oralização e música.
No que diz respeito à novíssima geração, é impossível deixar de mencionar vários nomes: Carlos Nader, Lucas Bambozzi, Kiko Goifman e Adriana Varella.
Um comentário:
muito bom!
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