A marca registrada do mundo pós-moderno é o pluralismo e a tolerância para posições divergentes. Desde os anos 80 através de Phillippe Starck e o grupo Memphis, de Ettore Sottsass, entre outros, o design vem se libertando da rigidez e buscando novas formas de apresentação. Na era pós-moderna não existe uma fórmula única e acabada de fazer as coisas. O progresso – valor supremo que uniu posições filosóficas como o Iluminismo, o Positivismo, e o Modernismo e atravessou ideologias de direita e de esquerda sem ser renegado por ninguém, vive uma posição ambígua por ser o principal responsável pela melhoria na qualidade de vida e ao mesmo tempo responsável pela degradação ambiental. Para o design, a pós-modernidade leva ao extremo várias contradições e questionamentos, já que o coloca no epicentro dessas duas correntes: o mercado e o meio-ambiente. E o profissional do design tem de ter a medida certa de se equilibrar entre esses dois pólos, projetando produtos “ecologicamente corretos”.
O mundo da era da informação se compõe de visões fragmentadas e fragmentos de visões, sendo a internet o principal símbolo dessa era. A fragmentação se configura através da velocidade de informações que a cada momento se tornam ultrapassadas, dado ao acúmulo de novas informações. Essa fragmentação não é coisa de agora, vindo pelo menos desde o século XIX, causada pelos avanços nos processos de manipulação da imagem como a litografia, a rotogravura, o fotolito, o offset entre outros recursos gráficos. Esses processos permitiram novas combinações de elementos gráficos, composições, entre outros. No design gráfico essas transformações vêm se sucedendo ao longo dos últimos vinte anos, deslocando o eixo dos preceitos funcionais para uma visão mais eclética e híbrida, sem medo de empregar a desordem, o ruído a e a poluição visual. Designers como Wolfgang Weingart, Willi Kunz, Neville Brody, David Carson e outros, foram os precursores desta tendência que, advindas dos anos 70, são retomadas hoje em dia por jovens designers do mundo inteiro. Carson, radicalizou o design através dos seus trabalhos para revistas de surf e rock musica, conforme afirma Flávio Vinicius Cauduro (FAMECOS, dez/2000):
Merece ainda menção a radicalização do design gráfico proposta pelos trabalhos “irracionais” de David Carson, na década de 90, através de revistas de surf e de rock music, e que parece querer fundamentar a prática do design no fim do milênio em bases dadaístas e anarquistas.
O aparecimento das plataformas operacionais Macintosh e Windows facilitou mais ainda o trabalho de manipulação de fontes, espacejamento, entrelinhamento, que antes era domínio exclusivo dos tipógrafos. Como conseqüência tivemos a democratização do exercício do design gráfico, processo que está apenas no início. Segundo Cauduro (2000, p. 132), o aparecimento do “Mac” reviveu o construtivismo no design reinterpretando todos os outros estilos da época através dos bitmaps e das curvas vetoriais, tendo como figuras de destaque os próprios designers da Apple, Susan Kare e Bill Adkins, e mais Émigré, Zuzana Licko, Rudy Vander Lans, e, novamente, April Greiman. Mas a experiência com as plataformas operacionais também se apresentam com um grande risco: o de bitolar a criatividade, já que os programas funcionam através de códigos pré-estabelecidos o que dificulta a improvisação.
Desde a revolução industrial o paradigma dominante no design tem sido o “design de mercado” não sendo levado em conta a necessidade de um design social, ou seja, voltado para as necessidades sociais do ser humano (MARGOLIN, 2004). Vitor Papanek em 1972, foi o primeiro profissional a questionar a dualidade da profissão de designer ao afirmar em seu livro “Design for the real world” que existiam profissões mais prejudiciais que o desenho industrial, mas bem poucas (MARGOLIN, 2004). Nesse livro, Papanek já demonstrava preocupação com as questões sociais que envolvem a profissão de designer e sua relação com o progresso tecnológico/industrial.
Foi a crise do petróleo no início dos anos 70, porém, que detonou o sinal de alerta na humanidade: a natureza tem limites. O pânico causado por essa dura realidade, a exiguibilidade dos recursos naturais, proporcionou o surgimento do discurso ambientalista. O automóvel que durante muito tempo foi símbolo de status e ascensão social passou a ser visto como o “vilão” ambiental. A complexidade de um produto que envolve inúmeros componentes, aliado à queima de combustíveis fósseis o levou a esta situação. Por causa do seu envolvimento com o processo de produção industrial, os designers têm demonstrado grande consciência com a questão ecológica e as soluções adotadas por eles refletem essas preocupações. Para tentar minimizar o impacto ambiental causado pela indústria automobilística os designers industriais vem, segundo Medina e Gomes:
(...) substituindo materiais tradicionais por materiais especialmente desenvolvidos, dentro de uma nova concepção que integra critérios ambientais nos novos projetos de automóveis. Economia de combustível, redução das emissões e reciclabilidade são alguns desses critérios que vieram se somar aos parâmetros técnicos e econômicos na seleção de materiais, ainda na chamada fase de pré-projeto do automóvel (CETEM, 2002)
Esse novo paradigma não passou despercebido pelas associações de designers do mundo inteiro que recomendaram aos seus associados a necessidade de priorizarem a qualidade de vida sobre a quantidade de produção[1].
Passado o susto da crise do petróleo as pessoas continuaram a consumir, porém com um maior grau de consciência. Na indústria automobilística os carros grandes foram substituídos por modelos compactos, mais econômicos. Grande variedade de produtos foram desenvolvidos seguindo a tendência do ecodesign[2]
O surgimento de um mercado disposto a pagar mais para consumir produtos ecológicos gerou um boom no design de produtos, embalagens, propagandas e estratégias de marketing voltados para esse consumidor o que gerou grandes oportunidades para os designers. Se é verdade que a principal ameaça ao meio-ambiente vem do consumo indiscriminado e da colocação de resíduos industrias na natureza, então, o aperfeiçoamento de sistemas de reciclagem e o reaproveitamento deve se tornar o carro-chefe para o design industrial. Uma das lições mais importantes surgidas no início do movimento ambientalista é que as principais mudanças surgem dentro de casa, cabendo a cada um de nós fazer sua parte para termos um consumo equilibrado, respeitando os limites da natureza.
REFERÊNCIAS
CARDOSO, Rafael. Uma introdução à história do design, São Paulo: Edgard Blücher, 2004.
CAUDURO, Flávio Vinicius. Design gráfico & pós-modernidade. Famecos, Porto Alegre: n. 13, p. 132, semestral, Dez. 2000
MEDINA, Heloisa V. de, GOMES, Dennys Enry Barreto. Gestão Ambiental na Industria Automobilística: o caso da reciclagem de materiais.
In: http://www.cimm.com.br , acessado em 27/05/2009
MARGOLIN, Victor; MARGOLIN, Sylvia. Um “Modelo Social” de Design: questões de prática e pesquisa. Design em Foco. Salvador: 2004, vol. I, n. 1, p. 49-50, jul/dez. 2009, ISSN 1807-3778
in: http://redalyc.uaemex.mx/redalyc/src/inicio/ArtPdfRed.jsp?iCve=66110105 acessado em 27/05/2009
[1] O Conselho Internacional das Sociedades de Desenho Industrial - ICSID, do qual fazem parte mais de 150 organizações, aprovou na sua Assembléia Geral de 1993, realizada em Glasgow/Escócia, os princípios para um design ecológico:
defesa de produtos e serviços seguros; uso sustentado e otimizado de recursos naturais; uso da energia com sabedoria; parâmetros de desempenho excepcionais; proteção da biosfera; projeto da fase pós-uso; redução do lixo e incremento da reciclagem. (MALAGUTI, 2001)
[2] Ecodesign: utilização de conceitos ambientais, como a poupança de energia, água e de recursos naturais em geral, a minimização de resíduos e emissões e a utilização de fontes de energia renováveis, entre outras, nas várias fases do ciclo de vida do produto. (in: http://www.viladoartesao.com.br/blog/2008/06/o-que-e-ecodesign/)
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