Estamos vivendo um momento ímpar na história das lutas sociais na terra dos potiguares. Há muito tempo não acontece uma conjuntura como essa. Temos ou tivemos nos últimos dias, greves dos policiais civis do RN, Detran-RN, rodoviários, professores da rede pública de Natal-RN, agentes de saúde e agora o reforço da greve dos técnico-administrativos da UFRN e da UFERSA.
O movimento “Fora Micarla” que surgiu nas ruas, o fenômeno Amanda Gurgel em rede nacional e o movimento pela gasolina mais barata, são sinais de que não estamos mais deitados eternamente em berço esplendido, como diz o belo verso do Hino Nacional. Aliás, esse papo de deitar em berço esplendido é fantástico. Fantástico para as elites medíocres e burguesas do nosso país, que teimam em não reconhecer a legitimidade das lutas sociais e temem a organização do povo. O caso dos bombeiros militares do Rio de Janeiro é o exemplo mais recente dessa criminalização que já ocorreu aqui em Natal recentemente com os nossos policiais militares.
O movimento “Fora Micarla”, apesar de alguns espertalhões tentarem tirar proveito político, é um movimento legítimo, saído das ruas, puxado pelo movimento estudantil que há muito tempo não se mobilizava em Natal. Vejo essa geração atual dos “filhos de Poti” como herdeiros legítimos dos “cara-pintadas” que depuseram o presidente Collor. Por sinal, eles também pedem o impeachment da prefeita Micarla de Sousa. Pode-se perceber que esse movimento tem inspiração nos levantes populares que aconteceram recentemente no oriente médio e na África. Outro fator a ser considerado, é o fenômeno das redes sociais. Não se surpreendam se os donos do mundo não buscarem maneiras de limitar a liberdade que esses modernos meios de comunicação proporcionam. Os estudantes que ocupam a Câmara Municipal de Natal estão transmitindo em tempo real pelo twitter tudo que acontece lá dentro, até para se garantir de repressão violenta. O movimento pelo combustível mais barato também utilizou essa ferramenta para comunicação rápida entre os participantes.
As greves do serviço público estadual refletem o descaso, despreparo e desrespeito dos atuais donos do poder no estado que, repetindo velhas fórmulas, culpam os governos passados pelo estado inerte em que se encontra a atual administração, ao invés de buscar soluções. O discurso da falta de verba não cola, já que o governo vem investindo maciçamente em publicidade, o total de despesas com diárias aumentou nesses primeiros meses do governo Rosalba Ciarlini, conforme notícias apuradas nos jornais locais, entre outros gastos.
Completando o cerco, na esfera federal temos a primeira greve no governo Dil-má, puxada pelos técnico-administrativos das universidades federais aqui representadas pela UFRN e UFERSA. O movimento que começou forte, em apenas uma semana já contabiliza mais da metade das universidades federais em greve. Outro fator que nos deixa esperançosos é a grande adesão de colegas técnicos em estágio probatório, garotos e garotas que entendendo a importância do momento, e atendendo a mobilização do Sintest, não se acovardaram diante das pressões, chantagens e ameaças dos chefetes de plantão e aderiram ao movimento logo na deflagração. E vem muito mais por aí.
Para concluir, volto aos versos do nosso belíssimo hino nacional citado no segundo parágrafo. Ao invés de ficar “deitado eternamente em berço esplendido” prefiro buscar inspiração no verso: “verás que um filho teu não foge a luta”. É nesse verso que todos nós, filhos de Poti, devemos nos inspirar para não calar diante das injustiças, não temer diante das ameaças e principalmente não sucumbir diante da violência do aparato burguês de repressão.
Viva a luta dos movimentos populares; fora Micarla; liberdade para os Bombeiros Militares do Rio de Janeiro; viva todas as categorias em greves no serviço público do estado do RN; Viva a greve dos técnico-administrativos da UFRN.
Edson Lima
Pós-graduando em Gestão Universitária – UFRN
Técnico-administrativo - UFRN
Coordenador de comunicação – SINTEST/RN
Comissão de comunicação – Comando Local de Greve
Presidente do Conselho Comunitário do Conjunto Niterói