sexta-feira, 1 de julho de 2011

contribuição à greve dos técnicos das universidades brasileiras

Carta a Mané Beradêro

Pois é, Mané... quando vejo esse monte de gente fazendo greve no serviço público faço de conta que não é comigo, por que sei que isso não vai me atingir. Tô nem aí, se o governo não quer receber esses “baderneiros” pra negociar. Negociar o que? O que eles pensam que são? Aumento do piso salarial que é de mil e poucos reais? Isso é mentira... Não é possível que um funcionário da educação superior ganhe uma merreca dessas. Eles só podem estar inventando. Deve ser inveja por que presidente, ministros, deputados, senadores, entre outros dobraram seus salários no início do ano... eles podem. Mas também eles deram um aumentozinho pro salário mínimo...

Dizer que o governo quer vender os hospitais universitários? Quanta bobagem... como o governo poderia ter a cara de pau de vender o que não lhe pertence? Já vi que esse povo não tem limites. Só falta agora eles dizerem que o governo não tá nem aí com a educação pública, que não tá nem aí se os estudantes não tiverem aulas no segundo semestre, muito menos se faltar atendimento nos hospitais universitários.

Não, Mané. Tô nem aí com esse povo. Qual o problema se eles já tem o salário congelado desde 2010 e não terão aumento em 2011... Acho que o Governo deveria congelar pelo menos por dez anos. Aquele outro, o tal de FHC, congelou por oito anos... já pensou, Mané? O governo ia ficar rindo deles que acreditaram no tal governo dos trabalhadores...Depois nós é que somos os manés, né, Mané?

Eu tô muito satisfeito com meu salário, com meu governo, com meu reitor, com meu chefe, com minha vida...
Por isso, Beradêro, tô nem aí pra esses grevistas que tem a cara de pau de dizer que está lutando pela universidade pública, pelo ensino de qualidade, pela saúde pública de qualidade... tem até a desfaçatez de dizer que estão lutando por mim...Quem mandou ser tão idiota? Tô nem aí.

Eu, fico aqui, quietinho no meu canto, tipo sanguessuga, sabe Mané, daqueles que ficam no lombo do boi se alimentando do sangue do bicho, enquanto o infeliz trabalha para me sustentar...De repente, Mané, me fingindo de morto, me escondendo da luta, meu chefe não reconhece o meu grande “trabalho” qué o de derrotar esse povo metido a besta. E aí de repente eu até consigo uma chefia, né, Mané?

Qualquer dia, te visito aí em São Saruê.
Alías, acho que vou fingir que entro na greve e viajo pra passar uns dias aí com você.
                                                                                                         
Assinado,
Fura Greve.