sábado, 7 de novembro de 2009

CÁ “ENTRE NÓS”

Francisco Alves da Costa Sobrinho

Quem assistiu sabe que não é dança o que viu, pois trata-se de uma obra que não se reduz a uma evidencia meramente racionalista. Portanto, o espetáculo, de dança buscando a vida, dança e circunstância, dança e indagação, cumpre a função de trazer ao público uma estética distinta, ao relevar a natureza e a finitude do homem. A dança (arte) como testemunha e caminho de autoconhecimento, sem a preocupação de revelar ou incorporar conceitos. Neste ato de (des)dançar notam-se (percebem-se?) transformações e demolições que ocorrem nos espaços, fissurando-os, rompendo-os. É um espetáculo visceral, incomodante, de atrevida plasticidade, mesmo assim feito com desenvoltura, desinibição, fluidez, vibrações, beleza plástica.

“Entre nós”, assume, também, o conflito entre a palavra, as formas de expressá-la e a voz. Assim sendo, tenta fazer falar o dançarino, cuja mudez atávica atravessa o tempo. Coloca timbres de vozes nas gargantas e nos corpos dançantes, a palavra gutural, retorcida, aprisionada, por vezes onomatopeica, dando-lhes expressão vocal, buscando uma outra voz, conflitante, feita de pulsações e respirações. Não há a quarta parede, aquela dimensão estranha que nada significa além da forma, mas percebem-se (percebe-se?) paisagens interiores cheias de segredos – revelações. Talvez o fruto/resultado de uma estranha cumplicidade entre eles, os fazedores do espetáculo, e nós, de cá, os ofegantes, herdantes extasiados.

Feito de muita prática, exercicios bioenergéticos e do-ação, este é um espetáculo de arte a favor da amorosidade, da expressão pela afirmação do afeto, busca de amor e completude, (des)construção que consegue sintetizar formas, juntar visão e coração, num amontoado de discussões, questionamentos, lembranças, onde ninguém ilumina a cena para dirimir o conflito que não se resolve porque restam muitas duvidas.

CENA ABERTA:

Espetáculo (Dança): ENTRE NÓS

Grupo de Dança do Espaço Vivo

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