Artistas, grupos, técnicos, críticos e pesquisadores de teatro do Rio Grande do Norte e vindos de vários lugares do país foram convidados, em outubro de 2010, para mais uma edição do Festival Agosto de Teatro, em Natal.
Pode-se dizer como demonstram os registros, que o Festival foi um sucesso, não apenas porque reuniu uma parte da produção cultural do Estado e trabalhos importantes da temporada brasileira, como também porque naqueles dias conseguiu mobilizar em torno da arte os cidadãos e cidadãs da cidade, que compareceram sempre com grande entusiasmo, lotando as apresentações, festejando, aplaudindo os espetáculos e acompanhando as oficinas e encontros de avaliação programados.
O que restou inconcluso, não respondido, não praticado, eticamente ignorado, foi a resposta do Governo do Rio Grande do Norte, que até este momento não saldou seu compromisso com os contratados. Veio a mudança de gestão e, com ela, a velha estratégia que há tempos assassina a cultura do país: o estrangulamento da continuidade no andamento da coisa pública. Como se tratasse de empenhos cancelados pela gestão anterior, a atual gestão usou o argumento para justificar durante todos estes meses o não-pagamento da dívida, de maneira que um ano depois do Festival o Governo continua empurrando com a barriga, sem finalmente reconhecer que a dívida é do Estado e não do Governo que está pontualmente de plantão. Sinalizar com um novo empenho que não tem data para ser cumprido é o mesmo que sinalizar com nada.
Afora os argumentos de sempre e a promessa de que um dia pretende pagar o devido (quando?), a Gestão ainda tem que explicar não só aos artistas, mas à população, por que ignora que o Festival - que mobilizou tanta gente em torno do teatro naqueles dias – é algo que não tem interesse para a vida coletiva, do Estado, dos cidadãos. Pois que é isto o que se evidencia. A pergunta é: por que a cultura e seus agentes (desde que naturalmente não estejam colados a contextos midiáticos, quando o papo muda) é sempre tratada como algo absolutamente não prioritário? Por que a Cultura não interessa aos governantes? – O que esta situação perfeitamente exemplifica.
Por isso os criadores de teatro envolvidos no Festival exigem uma posição clara do Governo do Rio Grande do Norte e a solidariedade dos cidadãos e cidadãs que julgarem esta uma causa justa. Menos pelo dinheiro, mais pelo tratamento que vem sendo dispensado até aqui.
Prof. Dr. José Sávio O. Araújo
CENOTEC - Laboratório de Estudos Cenográficos e Tecnologias da Cena.
DEART - Departamento de Artes/UFRN
Programa de Pós-Graduação em Artes Cênicas.
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