Professor de Artes Visuais
Especialista em Gestão Universitária
Djalma Maranhão, prefeito de Natal cassado pelo regime militar foi um dos precurssores da educação popular no Brasil, apoiado nas experiencias do Educador Paulo Freire. Nesse artigo fazemos um relato das suas experiencias no estado do Rio Grande do norte, no período que antecede o golpe de 1964.
Alguns acontecimentos mundiais do pós-guerra repercutiram no Brasil e também em Natal, como a revolução cubana, primeiro enfrentamento ao imperialismo americano. O acordo de cooperação Brasil - Estados Unidos, que resultou na transferência em massa de recursos econômicos ao estado, visavam entre outras coisas, reforçar o domínio imperialista, atuando para diminuir o impacto que a revolução cubana causava entre as camadas populares.
Foi dentro desse contexto que o populismo, surgido sob o comando de Vargas se desenvolveu e dentro dele, as experiências em educação popular. Na visão das elites, o populismo tinha de acomodar as diversas aspirações populares, mantendo-as sob controle do poder dominante.Diante disso, eram permitidas e até financiadas pelo Governo Federal as várias experiências educacionais do período. Entre elas podemos citar:
a) O MCP - Movimento de Cultura Popular (1960), idealizado pelo então prefeito de Recife, Miguel Arraes. As atividades do MCP eram bastante diversificadas resultando daí a criação das “Praças de Cultura”’ para concentrar essas atividades. Nesse período, Arraes já era governador de Pernambuco;
b) O MEB – Movimento de Educação de Base, sob a orientação da Igreja Católica (CNBB), em 1960. Com o golpe militar, a Igreja acabou isentada da culpa pela “subversão”, tendo apenas os líderes populares sofrido as retaliações;
c) O CPC – Centro de Cultura Popular (1964), criado pela União Nacional dos Estudantes, UNE;
d) Campanha De Pé no Chão Também se Aprende a Ler, sob a orientação do prefeito de Natal, Djalma Maranhão. Essa campanha foi criada em fevereiro de 1961 com a inauguração do primeiro acampamento no bairro das Rocas. Os acampamentos foram a solução encontrada pelo prefeito Djalma Maranhão para sanar as dificuldades orçamentárias que impediam a aplicação de recursos na construção de escolas.
Todos esse programas foram criados segundo a perspectiva do educador pernambucano Paulo Freire e visavam politizar as classes populares envolvidas, possibilitando a passagem da consciência ingênua para a consciência crítica (CORTEZ, 2005, p.49).
Com o golpe militar de 1964 todas essas atividades de educação popular chegaram ao fim sendo os seus idealizadores presos e cassados.
Segundo a professora Margarida Cortez (2005), as idéias de democracia, diálogo, mudança social e do professor como crítico da realidade, presentes na obra de Paulo Freire foram incorporadas à campanha De Pé no Chão, por meio de palestras feitas por Freire e de cursos organizados pela Secretaria de Educação de Natal, com a participação da equipe pedagógica da campanha. Quando da realização da experiência de alfabetização de adultos na cidade de Angicos-RN, toda a equipe pedagógica se deslocou àquela cidade para acompanhar a experiência. Aqui chegando, o Centro de Formação, com o auxílio de estudantes universitários ligados ao CPC da UNE, fez o mapeamento das palavras que seriam utilizadas em Natal. Ainda segundo Cortez, a Campanha De Pé no Chão tinha uma proximidade muito grande com o pessoal do MCP de Pernambuco, também, influenciada por Paulo Freire que residia em Recife.
A equipe pedagógica da campanha realizava cursos de formação em Natal e posteriormente, através de convênios com prefeituras do interior visando a interiorização do programa de erradicação do analfabetismo, meta principal do prefeito Djalma Maranhão.
Com a criação da Diretoria de Documentação e Cultura ficou caracterizada cada vez mais essa preocupação com a educação e a cultura. Na visão de Cortez (2005), a criação das Praças de Cultura foi a iniciativa mais importante da DCC. As praças, que começaram a funcionar em 1961, eram constituídas de parque infantil, biblioteca, jornal mural, campo esportivo, teatro de arena usado para discussões e debates de interesse da comunidade. Atuavam como elemento complementar à orientação pedagógica da campanha.
REFERÊNCIA:
CORTEZ, Margarida de Jesus. Memórias de Campanha. De Pé no Chão Também se aprende a Ler. Natal: EDUFRN, 2005.
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